Quando os cigarros eletrônicos chegaram ao mercado, no início dos anos 2000, seu principal objetivo era ajudar os fumantes a largar o cigarro, trocando-o pelo chamado “vape”. A ideia era que o cigarro eletrônico se apresentaria como uma alternativa menos tóxica, e realmente era. Mas isso não significa que não faça mal à saúde, ou não perpetue o vício em nicotina.
Após anos de trabalho e propaganda anti tabagismo, finalmente a sociedade chegou em um ponto em que fumar cigarros não é visto como algo positivo. De 1990 a 2015, o número de fumantes no Brasil caiu pela metade. E grande parte das pessoas, em especial os jovens, acha este um hábito repugnante e sem sentido. Porém, com a chegada do vape, a situação parece estar mudando.
Em entrevista recente, o médico oncologista Dr. Dráuzio Varella destacou o risco da popularização dos chamados “vapes”: “No Brasil, nós conseguimos reduzir o número de fumantes de uma forma espetacular, elogiada por todas as organizações de saúde, inclusive a OMS. Estamos vivendo essa epidemia do cigarro eletrônico, apresentado para crianças e adolescentes como o cigarro foi apresentado na minha época: uma coisa que solta uma fumacinha, não faz mal nenhum”, afirmou. Mas, afinal, será que o cigarro eletrônico faz mal? Seria ele uma alternativa ao cigarro? É isto que vamos ver a seguir.
Ao contrário do cigarro tradicional, os eletrônicos possuem algumas “vantagens”: primeiro, não soltam fumaça; depois, não causam mau hálito; e, enfim, são muito mais higiênicos, uma vez que o usuário não precisa lidar com cinzas e bitucas de cigarro. Entretanto, essa característica mais “clean” não significa que sejam inofensivos à saúde.
Primeiramente, vamos entender como funciona o cigarro eletrônico. Diferente do cigarro comum, que queima por combustão, o modelo funciona à base de vapor. Por isso receberam o apelido de “vape”, porque a pessoa inala e exala vapor, e não fumaça. Esse vapor, porém, assim como o cigarro, contém nicotina e substâncias cancerígenas, além de diversos ingredientes desconhecidos dentro das chamadas “essências”.
Além disso, nos últimos anos, uma nova geração de cigarros eletrônicos, fabricados pela empresa Juul Lab, invadiu as escolas de todo o mundo, trazendo para o vício jovens que nunca haviam sequer experimentado cigarros. São os chamados “pen drives”. De tão popular, o uso de vape foi classificado como uma epidemia nos Estados Unidos em 2019. Neste mesmo ano, hospitais americanos reportaram cerca de 2,5 mil internações e mais de 50 mortes de pessoas com problemas pulmonares relacionados com o uso do cigarro eletrônico. O vape, assim, perde sua finalidade original. Agora, ele se transformou em problema de saúde pública em diversos lugares do mundo, inclusive no Brasil.
Por aqui, pesquisas mostraram que 1 a cada 5 jovens de 18 a 24 anos já fazem uso de algum tipo de cigarro eletrônico. Os números são do Relatório Covitel, relatório divulgado em 2022 pela Universidade Federal de Pelotas, que pela primeira vez traz dados sobre como funciona o uso de cigarro eletrônico no país. O estudo entrevistou mais de 9 mil pessoas, e mostrou que a região Sul é a segunda que mais utiliza os aparelhos, atrás somente da região Centro-oeste.
Portanto, sabe-se que o cigarro eletrônico faz mal, mas que ele também pode ser considerado menos prejudicial do que o cigarro normal. Afinal, este possui mais de 4 mil substâncias tóxicas (inclusive o alcatrão, que pode induzir à formação do câncer) que fazem muito mal à saúde. Além disso, quando o cigarro é queimado, a combustão libera o dióxido de carbono, que é muito tóxico para o corpo humano. Ao fumar o vape, este processo não acontece.
Porém, isso não significa que os malefícios dos cigarros eletrônicos não existam. Afinal, não é só vapor de água que está sendo inalado. As essências quase sempre possuem em sua composição ingredientes como glicerina, propilenoglicol e nicotina, bem como outros aromatizantes. Ou seja, muitas substâncias químicas desconhecidas e que não possuem testes ou regulação para determinar se são ou não prejudiciais à saúde. Portanto, é muito difícil saber se uma essência é segura. Atualmente, existem milhares de combinações diferentes de substâncias, o que pode gerar consequências desconhecidas à saúde.
O Instituto Nacional de Câncer (Inca) já alertou que o cigarro eletrônico faz mal e é prejudicial à saúde, além de aumentar em mais de três vezes o risco de experimentação do cigarro tradicional, e em mais de quatro vezes o risco de uso prolongado do cigarro. Isso porque pessoas que utilizam qualquer tipo de dispositivo que libera nicotina, seja o cigarro eletrônico ou tradicional, terão dificuldade de largar o vício. E já é comprovado que a nicotina faz mal ao sistema cardiovascular, além de causar problemas como a fibrose cardíaca.
Por fim, além de fazer mal para o sistema cardiovascular, cigarros eletrônicos também podem comprometer os pulmões, como já foi demonstrado em estudos. Também foi provado que o uso de cigarros eletrônicos pode causar hemorragia alveolar e lesões graves ao pulmão, relacionadas à doença Evali.
Portanto, evidências não faltam para comprovar que os malefícios do cigarro eletrônico à saúde, e como o seu uso vêm se tornando um problema de saúde pública, principalmente entre pessoas mais jovens.
Talvez isso parece surpreendente, uma vez que podemos encontrar pessoas utilizando cigarros eletrônicos em todos os locais, abertos ou fechados, mas a comercialização de cigarros deste tipo é proibida no Brasil. E não apenas a venda, mas também a importação e a propaganda de vapes, pods ou similares.
Entretanto, esses aparelhos podem ser facilmente encontrados em comércios tradicionais, sendo vendidos de forma ilegal. E se em comércios de rua são vendidos sem fiscalização, na internet esse processo fica ainda mais fácil. A maior parte dos cigarros eletrônicos hoje é fabricado na China e chega ao Brasil por meio de contrabando, sendo distribuído facilmente para a venda ilegal.
É claro que você não precisará responder por nada caso seja visto usando um cigarro eletrônico: não há nenhuma lei que puna o usuário. O maior problema de utilizar este produto está relacionado à sua saúde: o cigarro eletrônico faz mal, e muitos de seus efeitos no corpo ainda são desconhecidos. Além do fato de que você provavelmente acabará viciado em nicotina. Portanto, evite o uso destes dispositivos, assim como o uso de cigarros tradicionais. Cuide de você em primeiro lugar.
E se você quiser receber mais conteúdos como este, para dicas e informações importantes para a sua saúde, inscreva-se no formulário abaixo e esteja sempre atualizado sobre os conteúdos do nosso blog!